"Há uns tempos vi uma imagem de um gajo vestido de mulher. Parece que saiu assim para a rua para sentir o que as mulheres passam todos os dias. Diz que ficou com muita pena da namorada e de todas as mulheres porque percebeu o que elas sentem. Não me fodam. Os homens nunca saberão o que é ser uma mulher. Não é só pôr uns saltos altos e baton nos lábios para ficar automaticamente dentro do assunto. Senti-me ofendida mas eu também agora ofendo-me com muita facilidade. Ofendem-me os olhares na rua, os piropos, as piscadelas de olho. Deixei de ter paciência. Um homem nunca saberá o que é ser uma menina feia, gorda e ser gozada por isso. Um homem nunca saberá o que é ser uma menina bonita, magra e ser assediada por isso. Um homem nunca saberá o que é ser chefe de uma empresa qualquer e ser apelidada de mal fodida só porque é dura ou implacável. Um homem nunca saberá o que é ser uma mulher bonita e por isso mesmo nunca ser levada a sério. Um homem nunca saberá o que é ser uma mulher desinibida e ser por isso chamada de puta. Ou acusada de "estar a pedi-las" porque usa saias curtas ou decotes. Um homem nunca saberá o que é sentir-se inseguro desde pequeno por ser mulher e mais fraca fisicamente e mais apetecível e mais vulnerável a ataques e agressões. Um homem nunca saberá o que é ter medo do escuro porque no escuro há coisas más. Um homem nunca pensará duas vezes em andar na rua à noite, sozinho, e um homem nunca será arrastado para a mata para ser violado, apalpado, mordido. Um homem nunca saberá por muito que tente pôr-se no nosso lugar, por muito que vá para a rua vestido de mulher, por muitos vídeos de consciencialização que se façam com homens no papel de mulheres agredidas e assediadas, um homem não é uma mulher. Nunca será. Um homem, todos os homens, só têm, de uma vez por todas, de olhar para as mulheres como pessoas e tratá-las como tal, com o mesmo respeito e consideração que tratam os seus companheiros de género. Têm de parar de as ver como aves raras, como objectos, como mamas ambulantes, como seres "especiais" e "complicados". Complicados é o caralho. Complicada é a nossa vida desde que nascemos. Complicado é ter 14 anos e ser atacada por cinco gajos sem pingo de humanidade. Complicado é ser obrigada a usar uma burka porque os filhos da puta dos homens não se controlam quando avistam formas femininas. Complicado é ser tratado como um pedaço de carne sem cérebro. Ou ser gozada porque não se é bonita, por não se é boazona. Complicado é ir ao dentista e ser morta à facada pelo ressabiado do marido. Ou levar um tiro de caçadeira. Se as revistas femininas dessem menos moda e "como conquistar um homem na cama em três minutos" e mais artigos sobre mulheres - incríveis, torturadas, mães, chefes, empregadas domésticas, escritoras, médicas, lésbicas, hetero, bi, ciriminosas, surpreendam-se porque as mulheres podem ser tudo, não é extraordinário? - é que era bonito. E útil. Se se dispensasse tanta energia em divulgar nas redes sociais as atrocidades que se continuam a fazer a mulheres e a rapariguinhas como se passa a falar da merda da Conchita e da sua barba, dos gatinhos para adoptar (esta foi da Susana), dos cães abandonados e maltratados, da porra do Benfica e do mundial, do filho da puta do Palito que até uma página de Facebook lhe fizeram como se o homem fosse uma estrela, talvez - talvez - alguma coisa já pudesse ter mudado. Talvez já pudéssemos ter um bocadinho menos de medo."
by Leididi.
Lembrei-me de quando há coisa de um ano tentava explicar a um amigo (na altura a propósito de quererem legislar o piropo) o que é ter 12 ou 13 anos e ter velhos agarrados ao micro-pénis apontado para nós, enquanto dizem coisas completamente nojentas e ficarmos num misto de medo/choque/"o que é que eu fiz, só estou a passar na rua?!". Ou de como é ir num autocarro da Carris e de repente reparar que, no meio do caos de gente, alguém tinha acabado de se masturbar enquanto se roçava nos elementos femininos que iam de pé e de como só tive a reacção de o esmurrar completamente possuída até ele sair do autocarro (my bad, eu só devia ter parado quando ele ficasse imóvel no chão). E ele não percebia e achava que eu estava a exagerar. Depois perguntei-lhe o que fazia se a filha aos 10 anos lhe chegasse a casa a chorar por um velho baboso se tinha metido com ela, ou tocado, ou o que fosse. Pois. É que não percebem mesmo.
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