sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O perú e o azeiteiro

Bronco todos os dias. Mas no fim já me estava a dar pena.
Socializava eu com uma amiga num bar aqui da zona, quando me chega aquele azeiteiro e eu já a prever que dali não vinha coisa boa. Assim que ela vai à casa de banho, ele tenta e falha miseravelmente meter conversa. "És 91?" -> "Não, lamento."

Depois de inventar uma história rocambolesca (e a outra não lhe ter dado o corte na hora certa) acaba por se convidar a sentar na nossa mesa. Mais sabia eu que vinha para o meu lado.

O meu cérebro deve ter tido um Avc pelo meio, porque não está habituado a estas conversas surreais, mas ficam algumas das pérolas de que me lembro..

(.. bla bla, gaja em Corroios, TvCabo, telemóvel, bla bla ..)

Azeiteiro - Olá, eu sou o X.
Eu - Olá, eu sou a Maria. (bendito alter-ego)
A - Namorei com uma rapariga chamada Maria.
E - Ah sim? E porque é que acabaram? (porque sofres de microcefalia?)
A - Porque ela era má pessoa. Mas acho que tu não és.
E - Pois, mas tu também achas que me chamo Maria..
A - E és de cá Maria?
E - Não, não, estou só de passagem.

(...)

A - Qual é o teu signo? Aposto que és Escorpião. (epá, se ele aposta, quem sou eu para contrariar)
E - O meu signo? Estás a falar a sério? Mas isso interessa a quem?
A - Sabes que as coisas que não interessam à primeira vista podem ser recicladas na nossa mente..
E - (som do meu cérebro a ter o 1º Avc)
A - Podes não ser Escorpião, mas picas.. (lame, so lame)
E tens namorado Maria? (a cara da minha amiga aqui foi memorável)
E - Opá, mas a sério? (riso.. muito riso)
A - Deves ter, com esse olhar e a maneira sensual como agarras no cigarro.. (pisca o olho)
E - Aposto que a tua namorada com quem simulaste falar ao telefone há bocado deve adorar este tipo de conversas..
A - Tens piada, tu.
E - (pois, o mesmo não posso dizer eu.)

(...)

A - És cabo-verdiana?
E - (virando a conversa para a amiga) Eu não digo? Toda a gente acha que eu sou brasileira, cabrita, egípcia.. (virando para o azeiteiro) Sou, sou!
A - (balbucia qualquer coisa em crioulo)
E - Medo.
A - Esse olhar sensual.. Tens olhos de egípcia, pele de cabo-verdiana e coração de pedra. (pisca o olho)
E - (muito riso outra vez, as duas) Lindo! Tu lembra-me destas frases quando chegarmos a casa!
A - .. coração de pedra, mas não faz mal, porque eu sou ácido sulfúrico. (mas quem é que diz isto???)
E - Sulfúrico? Podias ter escolhido algo mais forte, não? (quiçá, um perclórico)
A - Ah sim, qual é a composição do ácido sulfúrico?
E - H2SO4.
A - Disseste rápido para eu não perceber, não foi?
E - H-2-S-O-4. (para além de estúpido és surdo. a prova que uma desgraça nunca vem só)
A - Estudas ciências portanto.
E - Ou então tenho cultura geral.

(...)

A - És complicada, já percebi.
E - Complexa, sff.
A - Gostas de te fazer de difícil, mas não és que eu sei.
E - (omnisciência neste bar.. duvido.)
A - Eu acho que tu até és simpática.
E - Simpática é coisa que eu de facto não sou. (e tu hoje estás a apanhar-me bem disposta, senão já tinhas levado um andamento..)

(...)

E - Mas olha, porque é que estás sempre a piscar-me o olho? (mortinha de riso)
A - É um tique que eu tenho sabes? (e dá uma entoação ridícula à frase)
E - E porque é que estás a falar como um apresentador de televisão?

(...)

A - Diz-me uma palavra sentimental que te toque. (amiga diz baixinho: Raiva?)
E - Hun? Não me ocorre nada, desculpa.

(azeiteiro começa a teclar furiosamente no telemóvel, eu e amiga comunicamos por olhares e gozamos como se não houvesse amanhã)

E - Olha, tu não estás a escrever um poema pois não?
A - Ssshhh.
E - Tu não me mandaste calar pois não? (Oh no he didn't!)

(2 min)

A - Toma, lê.
E - Pois vês, se me tivesses deixado falar eu tinha-te dito logo que odeio poesia. E já agora, aprende, estás a ver estes k's que usas nas mensagens? Evita, é feio, as meninas não gostam e um C dava o mesmo trabalho.. percebes? (Maria, sempre na sua quest por um mundo e uma ortografia melhor)

(oferece bebida, não, oferece tabaco, não, diarreia verbal, oh não!)

A - Já foste a Inglaterra? Eu morei lá um ano sabes?
E - Já. Mas isso devias falar aqui com a minha amiga, que ela vai lá para o mês que vem.
A - (ignorando o que eu acabei de dizer) Foste ao Museu de Cera? Tenho aqui fotos no telemóvel. Olha aqui o Madam Tussaud's. (mostra a foto)
E - Pois. Mas isso é o National Portrait Gallery em Trafalgar Square. O Tussaud é perto de Baker Street.
A - (silêncio)

(...)

A - Há uma discoteca nova que vai abrir no Pinhal Novo, eu podia-te convidar..
E - Não gosto de discotecas. Podias era convidar a tua namorada.
A - Qual delas? (de alguma forma, ele achou que isto seria aliciante)
E - Obviamente, a que morar mais perto do Pinhal Novo.

(...)

A - Vens cá muitas vezes? Podias-me dar o teu número..
E - Não, não me parece. Eu e a minha amiga vamos andando..
A - Ok, eu vou embora também. Desculpa se vos incomodei, tu foste muito fria comigo, mas eu gostava mesmo de te conhecer.(aproxima-se)
E - Não, um aperto de mão chega.

Cá fora cruzamo-nos novamente e ele começa a falar do tempo e do frio que está. Mais um cliché para a colecção dos últimos 30 minutos.

E eu a pensar que estas pick-up lines de merda só aconteciam nos filmes ou em bares de categoria B.

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