segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O peru e as malas

Um dos meus defeitos é ter sempre muita vontade de fazer malas e muito pouca de as desfazer. A minha mãe passava-se completamente depois das minhas viagens, passagens de ano, acampamentos, porque o reboque que eu levava ficava depois a emplastrar o quarto durante, às vezes, semanas.
Hoje, exactamente 2 meses e 11 dias depois, abri uma das malas. Agora em retrospectiva, devia ter fumado qualquer coisa antes. Tirei tudo para fora até ter uma pirâmide no chão da sala. Escolhi o que queria. Deitei muita coisa para o lixo (o que é uma bela metáfora para a ocasião). Guardei tudo o que me trouxesse memórias num caixote grande e lindo que espero não ter a tentação de visitar. Agora que penso nisso não fabricaram ainda um com o espaço que eu precisava. Adiante.
Sempre demorei imenso tempo a desfazer malas e a arrumar o quarto quando era miúda porque distraía-me durante horas com o que ia encontrando (e logo eu, que sou uma hoarder de primeira..)
Hoje não foi diferente. Encontrei malas que não via há, literalmente, anos. Lá dentro, bilhetes de autocarro, bilhetinhos, papéis vazios de Milka de Amêndoas. É que devia MESMO ter fumado alguma coisa antes. Deitei fora muita, muita roupa à qual me fui agarrando ao longo dos anos mas que agora não tem significado nenhum. Trapos que sei que nunca mais hei-de vestir (e que se foda o acordo ortográfico) na vida. Tenho um quadro esticado na cama, a qual não uso há meses, e que sei que nunca vai estar na minha parede da sala. A palavra "nunca" passou-me na cabeça muitas vezes nas últimas horas.
Há quem chame a isto exorcismo. Não concordo nada.
Uma mala já está. Faltam outras 2 e os 7682 sacos de tralha. E o porta-bagagens do carro. Groovy.

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