domingo, 26 de dezembro de 2010

O peru e o Natal

Este Natal foi.. diferente de todos os outros. O meu espírito natalício estava a -378. Nem árvore de Natal se montou. Mea culpa por ainda deambular pelos sítios e pelas pessoas sem nunca estar realmente lá, nem saber onde quero ir. Mas também porque a nossa alegria do Natal estava no hospital.
A minha fé e amor pela humanidade continua nula, mas dia 24 à noite senti o espírito de entreajuda como provavelmente nunca antes. Tive (finalmente) consciência que há pessoas que passam o Natal no hospital completamente sozinhas. Algumas, como o R., com visitas (quando nos deixavam); outras, como o senhor do lado, que não tinha ninguém. As lágrimas já me escorriam pela cara não por quem é do meu sangue, mas pelos estranhos que iam contando as suas histórias. Pessoas cujos olhos brilham quando nos lembramos de levar uns bombons ou umas azevias para eles também.

O R. sempre foi a vida da nossa quadra natalícia. Sempre teve mais vida que todos nós juntos. Dizia as piadas, as ordinarices, mandava vir com toda a gente e era um sacana. Escondia as prendas que não eram dele. Contava histórias de há 30 anos à lareira enquanto aguardavamos pela meia noite.

O R. entrou em coma hoje. Como alguém que deveria viver anos e anos definha assim em 15 dias é algo que ainda não compreendo. A mancha que se entranhou nele está agora também sobre nós e há-de persistir durante anos, sempre nesta data.
A imagem que hei-de guardar dele é aquela a que me habituou e não a que vi ontem. E muito menos a que vi hoje, quando me despedi.

1 comentário:

  1. =/ E é assim mesmo que tens de pensar! Recordá-lo SEMPRE com alegria e lembrar tudo com um grande sorriso! Força ****

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